Por que querem apagar a cultura de São Paulo ?
O brasileiro AMA música. Possivelmente somos um dos países mais musicais do planeta, com uma explosão de ritmos que vai do samba ao funk, passando no caminho pela Bossa Nova, sertanejo, caipira raiz, samba canção, axé, forró e o criativo pop nacional dos anos 1980, entre tantos outros.
Na cidade de São Paulo o samba especificamente teve expressões locais muito peculiares, como o mestre Adoniran Barbosa, imortalizado postumamente com uma rua em seu nome e um busto, ambos no Bixiga, além de uma rua imortalizando seu samba “Trem das Onze” no bairro do Jaçanã.
Como não se lembrar do homem paulista caipira, imortalizado pela música adorável da dupla Tonico & Tinoco, o primeiro de São Manuel e o segundo de Botucatu, que quando chegaram à capital se apaixonaram por completo pela metrópole, no já distante ano de 1941. A paixão e a gratidão pela Cidade de São Paulo era tão grande que em 1959, após Tinoco recuperar-se da tuberculose, a dupla erigiu uma capela no bairro paulistano da Vila Diva, zona leste paulistana.
São Paulo também revelou mestres da música popular e erudita como o grande compositor paulistano Alexandre Levy e seu colega contemporâneo, o campineiro Carlos Gomes. O primeiro, sepultado no Cemitério da Consolação, infelizmente não é tão lembrado por nós como deveria.
Para não ficarmos apenas no passado, a cultura musical paulistana trouxe ao mundo gênios dos ritmos modernos como o rapper Emicida e a cantora Gloria Groove, respectivamente nascidos no Jardim Cachoeira e Vila Formosa.
A cultura musical genuinamente paulista e paulistana é rica, viva, efervescente.
Entretanto parece que para a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo (SMC) a identidade musical paulistana e a história local não existem. A SMC decidiu investir neste momento a quantia de R$ 1 milhão de Reais na difusão da “cultura forrozeira” na cidade.
Em que pese o profundo respeito que tenho pelo forró, ritmo nordestino surgido em Pernambuco nos anos 1930 e que explodiu nos anos 1950, não se trata de um ritmo paulista ou mesmo paulistano. O ritmo difundido lá atrás pelo saudoso Xerém, nome artístico do músico Pedro de Alcântara Filho, pioneiro a usar o termo “forró” em composições não carece de divulgação, ele é pleno em uma São Paulo com milhares de migrantes nordestinos que ao chegarem por aqui difundiram ricamente sua cultura, sua culinária e seus costumes.
São Paulo, tão acolhedora não pode deixar sua cultura local agonizar.
Por outro lado gêneros e estilos musicais típicos de São Paulo estão morrendo sem qualquer apoio de órgãos de cultura, sejam estadual ou municipal. São as tradicionais modinhas, modas de viola e sertanejo raiz, este último não aquele da sofrência, mas o que lembra da fazenda paulista, do café, da marvada pinga, do cantar do galo nas manhãs dos rincões paulistas.
Também devemos nos lembrar das marchinhas que eram popularíssimas em São Paulo especialmente até a década de 1930. De acordo com Álvaro Antônio Caretta, doutor em linguística pela Universidade de São Paulo, uma das características da canção paulistana é o saudosismo. Presença constante na canção popular da cidade de outrora e que hoje já desapareceu quase que por completo.
Antes de torrarmos os cofres públicos para divulgar o que já é conhecido, público e notório, vamos primeiro nos empenhar e garantir que a paulistice não desapareça para depois cuidar da cultura consagrada de outras localidades.
Convido a todos a assistirem ao vídeo abaixo onde discuto exatamente esse caso, do gasto desnecessário de 1 milhão de Reais para a difusão da cultura do forró em São Paulo, neste momento que não é o indicado para gastos desse tipo, com tantas polêmicas envolvendo dinheiro público em shows, por exemplo, e com tantas carências na cultura paulistana.
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